“Quem casa, quer casa.” Estávamos, o marido e eu, à procura de um imóvel para morar. Selecionamos bairros pelos quais simpatizávamos mais próximos ao comércio, com facilidade de transporte público e, acima de tudo, que evitasse grande deslocamento ao trabalho – este é um sonho para quem vive em uma cidade com 11 milhões de habitantes como São Paulo. Depois de literalmente rodarmos a cidade, optamos pela Zona Oeste.
Apesar de toda essa preocupação em facilitar o cotidiano, após fechado o apê, o que me fez apaixonar por ele foi a vista: “Dá para ver a Serra da Cantareira”! Eu não acreditava que essas montanhas destacadas apenas em mapas geográficos do colégio – ou de aviação – pudessem estar tão pertinho de mim. Ironicamente, quem me apresentou para valer a “Serra” foi o meu marido enquanto namorávamos – e nem imaginávamos que iríamos nos casar e, muito menos, morarmos em frente a ela. Ele me mostrou que há um parque visitável incrível chamado (adivinhe): Parque Estadual da Cantareira. Do alto da sua Pedra Grande, dá para ver São Paulo quase inteira. Uma floresta de concreto.
Todo dia, assim que acordo e quando chego em casa, a primeira coisa que faço é abrir as cortinas da minha casa para o mundo. Respiro fundo com a Serra no horizonte. Se está sol e tempo limpo, dá para observar cada frondosa árvore. Nos dias nublados, parece que a Serra é feita de algodão pintado com diferentes tons de verdes e até azulados. Percebi que pode chover na Zona Norte, enquanto na Zona Sul o céu está limpo, porque as nuvens se acumulam sobre o acidente geográfico. E que chuva boa. Ela ajuda a abastecer a Cantareira, que justamente recebeu esse nome em alusão aos cântaros levados com água do local pelos tropeiros em viagem lá pelo século XVI.
Ignorada pela floresta de concreto, a Serra da Cantareira continua até hoje fornecendo água aos sedentos pelo “desenvolvimento”. Abro a torneira e sei que esse líquido cristalino é um presente da serra que abraça a cidade. Daquela que está atrás de mim enquanto lavo a louça, zelando por nossa saúde. O vídeo é minha homenagem a uma protagonista da nossa vida, mas invisível aos olhos dos habitantes da Região Metropolitana que só vivem no futuro. Sem a Serra da Cantareira, haveria amanhã?